- Sorte sua que o encontrei antes deles!
Veothar ainda estava no mundo invisível. A voz que ouvia era do meta-humano, o mesmo que havia encontrado em meio a seus delírios da inconsciência de outro momento, de quando chegou em Insag.
- Como conseguiu isso, Veothar? Parece que há uma barreira protegendo sua mente no inconsciente. Não é mais como antes. Algo lhe protege! Os sartânios, estão loucos atrás de você!
Se viam na tribo, em meio à grande festa de 30 anos. Ninguém que estava ali na carne os via. E ambos só vislumbravam vultos, luminescências e sombras.
Veothar ainda se encantava com a liberdade de sua alma. Sentia-se lúcido, mesmo no inconsciente; forte, mesmo sabendo que o corpo era velho, limitado e estava ferido depois do que aconteceu na casa de Monsenir.
Passa a ouvir então atentamente aquela figura albina, meio humano, meio deus, com genes sideroniano e energia de Orion.
- Temos monitores espalhados por toda Insag. Conseguimos ver apenas parte do que acontece aqui, em forma de padrões de calor, ondas sonoras, magnéticas e energéticas. Temos seu padrão de energia corpórea mapeado, Veothar. Detectamos, há alguns dias, uma forte distorção do tempo. Eles acionaram uma grande carga do que chamamos de Controle de Tempo Biológico. Detectamos isso em atividade na mente de alguns indivíduos. Você era um deles.
- É, eles acionaram isso. Em mim, em Monsenir... Três sartânios nos abordaram. Injetaram algo em nosso sangue, junto com um artefato, em nosso pescoço. O tempo estava parado! E só nós. Só nós podíamos nos mover, falar... uma sensação terrível.
- Usamos esse mecanismo para grandes viagens no espaço, para estancar nossa passagem de tempo biológico em relação ao ambiente. Ou mesmo em batalhas, de forma contrária, para nosso tempo mental e biológico acelerar em relação ao ambiente. Mas pelo que percebemos, a carga usada em vocês foi grande demais! Ao ponto de parar o tempo. É uma carga violenta demais para um sideroniano sem instrumentais para recebê-la. Depois disso, nossos sensores detectaram que você perdeu a consciência.
Enquanto o meta-humano falava, Veothar recobrava o que havia vivenciado e visto.
- Eu preciso voltar ao corpo! São muitos! São muitos sartânios lá embaixo. Se seu exército vier para a tribo... Se acontecer a batalha, contra todos aqueles sartânios e armas, não vai sobrar Insag. Tinhas razão, essa gente precisa sair daqui!
- Você conseguiu ver a base. Conseguiu ir lá. Como?
- Não sei explicar. Minha experiência fora do corpo está mais intensa. Meu controle, minha lucidez sobre os lugares que vejo, que pairo, são mais fortes...
- Você tem mais força aqui, nesta camada invisível, do que na camada da matéria, Veothar. Seu corpo está mais limitado que antes!
- Como assim?

Veothar agora se vê diante de si mesmo, inconsciente, sobre a cama da casa de cuidados. Ele podia sentir a fraqueza dos braços, a debilidade do corpo quando se aproximou... sentiu a visão embaçar... Sabia, de alguma forma... Estava sem a visão... Se voltasse ao corpo, estaria mais fraco que antes e cego. Sente um aperto na alma, uma angústia grande. E se afasta dali junto com o meta-humano.
- Por Ethar... estou cego... Meu corpo! Sinto ele fraco, limitado... Aquela mulher... Haia... Ela sabia. Ela me falou.... mas, como?
- Que mulher?
- Lá embaixo... vi toda a base, vi tudo. Vi os humanos em cativeiro, os experimentos, os sartânios...
- Você conseguiu algo que os meta-humanos não conseguiram até hoje, Veothar.
- E vi Haia. Aquela mulher, tem energia diferente de todos nós. E como ela sabia? Como ela sabia que meu corpo era limitado se não me conhecia? Na verdade, sim... ela disse que me conhecia... Mas, como ela, em carne, me viu? Minha mente estava lá, mas meu corpo... não.
- Então você viu o ser... o ser de padrões diferentes, que detectamos há anos.
- Sim! Eu vi e senti. Eu vi tudo. Gravei tudo que vi. Tenho o mapa da base Escorpião gravada em minha alma.
Os dois se mantém em silêncio e percebem uma grande sintonia fluir entre eles. Veothar podia sentir no meta-humano um aliado necessário naquele momento difícil, que se via só, forte na alma mas fraco na matéria, sem vislumbrar saídas claras para uma situação em que suas ações na matéria eram necessárias mas limitado dentro de um corpo cego. Na proporção inversa, as responsabilidades que trazia, dentro do que só ele sabia, eram enormes.
- Preciso que me ajude a visualizar este mapa – disse o meta-humano. É importante para todos nós! De minha parte, sei como pode conectar sua mente a um outro corpo. No corpo de um meta-humano, isso é possível. Precisamos encontrar um de confiança.
Depois de remoer a situação por um breve momento, Veothar vislumbra:
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