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33. ALMA PEREGRINA

Foto do escritor: E. J. Eluan JrE. J. Eluan Jr

Atualizado: 15 de jan. de 2023

E de dentro de sua alma, Veothar expele serenamente a oração ensinada pela tradição da Sociedade dos Adoradores de Ethar:


Santo, Santo, Santo!

És Ethar, Dono dos céus, mares e terras.

Minha alma peregrina se assenta sob teus domínios, em meu lar que é teu;

Para teus propósitos e em tua honra.

Santo, Santo, Santo!

Pelo machado de tuas leis, sou teu servo:

Assim falou Moeb Ishthar, em Teu Nome e em Tua Voz.

Do monte Rasif vieram tuas palavras,

Escritas no Livro Sagrado do Viver.

És Ethar, Dono dos céus, mares e terra.

Pelas tuas leis, sou teu servo!


Ao final, depois de cantá-las, depois que um arroubo de emoção deixou que seu instinto a trouxesse a tona na memória e na alma... via que não faziam mais o mesmo sentido que antes...


Não queria "assentar" sua alma peregrina em domínios; não sentia-se mais preso aos propósitos e honra de um deus dominador; Não achava que Ethar era um legislador, um senhor pelo qual deveríamos ser servos, um rei que reclama a propriedade de seus mares, terras e céus e nos dá a permissão de desfrutar suas propriedades.


Veothar sentia e ainda cria em Ethar! Mas aquelas palavras, aquela oração decorada há tanto tempo, dizia menos sobre Ethar e mais sobre os homens que a criaram há milênios. Desde muito criança ele se valeu da estrada pavimentada por estes homens para praticar sua fé. E, assim como milhões pelo mundo, seguia este caminho seguro, cheio de regras, rituais e solenidades, para encontrar, ao fim, a salvação cantada em nome de Ethar. Passou a vida preso à expectativa do destino dessa caminhada, dessa estrada tão importante para grande parte da humanidade trilhar sua espiritualidade, mas que, agora, amarga percalços de revelações que a guerra trouxe e que não cabem nela.


Ao terminar a oração, olhou em volta. Viu seres fantásticos presentes, o rodeando com suas energias. Aquela realidade fora da matéria, aquela consciência fora do cérebro, aquele respiro sem ar e sem pulmão, a sensação de liberdade, a pulsação sem coração... aquela plenitude estava mais próxima de Ethar que qualquer oração decorada.


Sentia-se um privilegiado! Desde criança via o que muitos não viam. Se culpava por isso. Teve medo de não chegar aonde a estrada das religiões levava. Tinha visões, audições, sensações, conversas proibidas com os mortos... Tudo isso, que era tão próprio dele e de poucos, era amaldiçoado pelos templos e sacerdotes. Mas, com o passar do tempo, percebeu que, quem o julgava amaldiçoado, não tinham essas experiências e essas sensações. Não podiam então perceber: eram poderes que o aproximavam mais de Ethar que as leis dos Templos.



Mas agora, era mais intenso do que poderia imaginar. Desde o coma, as vibrações aumentavam, as portas de sua percepção se escancaravam. Talvez algo parecido tenha acontecido com Moeb Ishthar quatro milênios antes, que o fez quebrar tradições da sua época, assim como tantos mentores de outras religiões, todos eles incompreendidos pelas Sociedades que interpretaram durante gerações suas mensagens.


Então, algo lhe veio a mente logo após lembrar daquela reza: como qualquer coisa dita em palavras, ela era pequena demais para o tamanho real de Ethar, para a grande plenitude de existência que experimentava no invisível, para a contemplação de vida que tinha.


Sentia-se parte de um organismo, muito além de sua individualidade, onde tudo e todos estão e são, ao mesmo tempo, um e muitos. Algo difícil de denominar, fácil de sentir no estado em que estava, impossível de caber em palavras, grande demais para se conter no caminho trilhado pelas religiões.


- Agora não pergunto mais pra onde vai a estrada*. Agora é hora de se deixar levar por ela, até peregrinar para fora dela. Não importava mais ir a Insag ou ao Templo ou à salvação final. Vou me deixar levar por este acaso e adotar o vôo de minha alma ao ivés dos passos dos meus pés, sem me preocupar com o destino. Me entrego para me deixar levar onde eu puder ir, onde eu possa saber quem sou.


- Há muitas maneiras de sentir Ethar, Veothar. Não tenha medo delas. O que Moeb Ishthar viveu e ensinou a este mundo é uma delas. O que os Vampara experimentaram ao olhar para a Pedra da Eternidade, muito antes de Ishthar, foi outra. O que os kampfas sentem e respeitam através dos elementais da natureza e dos ancestrais é tão forte quanto. Os Manhotim do oriente, os Calephas do Sul, os rituais Mobac, os adoradores da Deusa do Mar... cada um é uma face de algo grande e maravilhoso que você conhece como Ethar. Até o Deus Alienígena. Até mesmo aqueles que adoram os Meta-humanos, os que veem Orion como verdadeiros deuses... Existem muitas faces, e todas são verdadeiras se constroem e engrandecem a energia que nos conecta a todos e está dentro de cada um. Porque, esta energia é também o que chamam de Hélio Primitivo. E também é o que muitos chama de Ethar.


 

* Trecho de uma das músicas contidas na playlist INSAG no Spotfy



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