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37. LIMITE

Foto do escritor: E. J. Eluan JrE. J. Eluan Jr

Atualizado: 18 de abr. de 2021

E agora Monsenir está ali, trancado em sua casa enquanto a celebração de 30 anos da tribo acontece, sentindo o cano frio de sua arma apontando para a própria cabeça.


Três dias já haviam se passado desde aquele lapso no tempo. Desde que ele e seu amigo Veothar tinham sido humilhados e subjugados pelo Ancião Líder sartânio.


Veothar permanecia desacordado, mas Monsenir se recuperou naquele mesmo dia. Se recompôs o mais rápido que pode e passou a forçar seus pensamentos a focarem apenas na preparação daquela festa.



A situação que vive é o limite final que consegue suportar. Dali em diante, não se aceita e não consegue encontrar uma saída que não seja deixar a existência, fugir dela, porque tornara-se insuportável existir no mundo daquela forma, com os sartânios dentro da sua cabeça.


O que experimentou naquela sala, há três dias, estava muito acima de suas forças.


O monitoramento que os sartânios fazem de sua mente tortura-o. Não tem mais forças para disfarçar pensamentos que seriam prontamente censurados pelo Ancião Líder. E naquele momento, ali, na escuridão da sala de sua casa, não tinha mais como ocupar a mente com preparativos de festas ou outras questões administrativas.


Estava sentado no chão, junto aos destroços da mesa e da estante, destruídos pelo Ancião Líder. A arma? Estava na estante, e depois, no chão, projetada pelo arroubo de ira do sartânio.


Nos três dias que se passaram, não tivera nem forças nem tempo de arrumar aquela bagunça. E a arma o encarava dali em cada um deles. Agora, depois que a mente desocupou da festa, foi ao encontro daquele que seria o instrumento de sua fuga, no chão, à disposição dele.


Aumenta a pressão no dedo enquanto não consegue conter os gemidos que saem a cada vez que expira o ar da respiração tensa. Queria voltar a almejar o poder, desejo que o arrebatava nas primeiras incursões dos alienígenas em sua mente. Eram sedutoras. Eles o convenceram a acreditar que poderia ser poderoso. Mas ao reencontrar Veothar, naquela manhã, logo depois do longo e sofrido funeral de Agnar... foi impossível não recordar: a Aliança Escorpião era inimiga de guerra.


Dali em diante, experimentou um conflito insuportável. Como pôde se deixar seduzir? O Ancião lhe prometera o poder, a liderança em Nemansky e sua escalada política à presidência do Governo Unimundial. Mas depois daquela manhã, se perguntou: será que estava certo? Veothar lhe recobrava sua disciplina militar: o inimigo era a Aliança Escorpião!


E então veio toda aquela situação na sala. Precisava pedir ajuda à Veothar... ele entendeu. Mas imediatamente, eles vieram! Bastou um declínio de seus pensamentos e eles apareceram!


E podem vir agora... Não suportaria! E ao pensar nisso, a pressão do dedo aumenta mais ainda. Fecha os olhos apertando as pálpebras ao máximo que pode, prenunciando em sua mente o estrondo da bala fatal na cabeça. O gemido se transformou em um grito baixo, intermitente e soluçado por um choro rasgado...


Baixou a arma repentinamente numa luta interna do seu lado fugitivo contra um instinto de sobrevivência, fraco mais ainda resistente. Estava atordoado, ainda lutava contra os pensamentos. Ouvia os barulhos lá fora, os fogos, os batuques, imaginava-se cercado, o olho arregalava, para um lado, para outro, pensava ver os sartânios na cozinha, no corredor. Apontava a arma para lá, para cá... Um baque na parede de trás e vira os olhos e a arma para aquela direção...


Sua, geme, baba, chora. Passa a gritar alto, ninguém ouve por conta do barulho da festa. Ninguém ouviria o tiro. Era o momento. Olha para o corredor, está escuro, mas vê eles. Ouve o rangido do assoalho. Eles estão vindo!


- Saiam! Saiam!


Chora alto, grita, aponta a arma trêmula para o corredor, ouve o chão ranger, está escuro! Repentinamente aponta a arma para cabeça, não tinha mais dúvida, não tinha mais conflito, não suportaria eles na sua casa, na sua mente. Os olhos fecham com força, o corpo contorce, o dedo faz a pressão fatal...


“Click!”


...continua ali, consciente. Mais uma tentativa e ...


“Click!”


A respiração vai ao máximo. Grita alto e expele toda a energia negra pra fora! Olha a arma. Sente-se vivo! Mais que isso! É como se voltasse da morte. Sente-se desmorrido! A joga longe: a morte e a arma! Grita e engatinha para o corredor em meio aos destroços do chão, se levanta, cai novamente, levanta de novo. Alcança a luz para surpreender o inimigo na entrada...


Não havia ninguém.


Olha a arma no chão. Ela não o convida mais. Mas o que aconteceu? Estava carregada, sabia que sim! Era só destravar e apertar o gatilho. Se salvara. Algo o salvara. Já não acredita que deva fugir da existência...


Volta a apagar a luz e se deixa cair arrastando as costas na parede. Deita-se encolhido na escuridão do corredor. Chora como um bebê que acabara de nascer. Sente-se nascer, até dormir o que não havia dormido durante estes três dias.


Em alguns dias, iria descobrir que o mecanismo da arma se danificou no choque do golpe do líder sartânio. Mas para entender que o acaso é o melhor instrumento das entidades que o protege, demorará mais tempo.


 

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